quarta-feira, 29 de junho de 2011

"Não te amo"

Não te amo, quero-te: o amor vem d'alma.
E eu n 'alma – tenho a calma,
A calma – do jazigo.
Ai! não te amo, não.

Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida – nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!

Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.

Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau, feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.

Almeida Garrett
Folhas Caídas, 1853


3 comentários:

Nadine Pinto | Fotografia disse...

Lindo. Mas eu gosto mesmo é da música aqui do estaminé. Ao tempo que eu não ouvia os Reamonn.

Vida de Praia disse...

Adoooooro a poesia de Almeida Garrett! :-)

Lipincot Surley disse...

:) boas férias e escritas espero!