terça-feira, 21 de junho de 2011

Não percebo

Não percebo como é que algum professor pode fazer um exame daqueles. É daquelas coisas que não tem ponta de compreensão possível. Chega a um nível de pormenor que é impossível alguém saber de cor, num livro que deve ter cerca de 1000 páginas com letra pequena.

Ontem fui lá fazer o exame, apesar da minha avó ter morrido na noite anterior, apesar de não ter dormido, mas fiquei com a noção clara de que, apesar de não estar no estado mais concentrado para fazer um exame, aquilo era estupidamente difícil. Se algum dia tiver a possibilidade de falar com aqueles professores, um dia mais tarde, quando acabar o curso ou assim, gostava mesmo de lhes dizer na cara o que acho deste tipo de avaliação e as consequências que a mesma pode ter na nossa auto-estima e no nosso estado mental. E não estou a dizer isto a brincar..não é só culpa deles, é certo, é toda a forma como o curso está organizado.

A culpa, além do curso, também é minha. Eu bem o sei. A minha personalidade perfeccionista, o não lidar bem (ou melhor, não saber lidar) com os fracassos/insucessos,o querer sempre saber mais que os outros e ser a melhor, não ajudam. E, neste momento, não acho que seja uma pessoa saudável e equilibrada, como era antes de lá entrar. Eu continuo a adorar o curso, não é isso que está em causa, acreditem que não. É só que às vezes são coisas demais para a minha cabeça.

Fica um enxerto de um texto que li há algum tempo, escrito por um professor universitário e que espelha muito do que sinto:

"Carlos Viegas fala da sua experiência e diz que, «desde que comecei a trabalhar no Ensino que alerto que os veterinários são um grupo profissional muito complicado. Grande parte dos alunos só se manifesta sobre a matéria curricular, futebol e pouco mais! Falta dar-lhes, a meu ver, um pouco mais de vida, proporcionar-lhes o contacto com outras experiências, algo que os currículos, actualmente, não permitem, porque afogam as pessoas com tanto conhecimento». Para si, «era importante que houvesse cadeiras de livre eleição, onde se pudesse, por exemplo, frequentar belas artes, ou sociologia… algo que precisassem para se completar enquanto indivíduos, porque tão importante quanto a técnica é o enriquecimento humano nas suas várias dimensões, e essa é uma responsabilidade que não vejo ser assumida pela Universidade; pelo contrário, noto uma quase dormência. Depois, claro, surgem as patologias, porque os estudantes não podem, não conseguem, desfrutar a vida em toda a sua plenitude».

"Contam, então, os autores mencionados no seu artigo que há muito eram conhecidas as elevadas taxas de suicídio entre a profissão médica veterinária. Porém, salientam que a realidade traduzida num estudo publicado nessa mesma revista (Mellanby 2005) - que apontava para valores como 3,6 a 3,7 vezes mais que a média nacional do suicídio entre homens e ainda mais elevada entre mulheres, mais do dobro da taxa verificada na profissão médica e perto do dobro da médica dentária -, é bem mais trágica e assustadora do que à partida se podia imaginar."


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